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Às vezes II (ou Verificação empírica)

Às vezes preciso tocar a primeira superfície dura ao meu redor para ter certeza se, de fato, vivo as coisas que vivo ou se só as imagino. Às vezes toco na brasa quente do incenso só pra saber se o fogo ainda queima. Pergunto-me, também às vezes, se sou eu mesmo quem terá de viver apenas com as suas memórias até o fim dos meus dias, caminhando à sombra do que poderia ser noutra realidade. Gosto do canto dos pássaros de onde moro, dos quais não me recordo espécie, pois eles têm um ritual a lembrar-me que existe realidade mais tangível do que câmbio flutuante, bolsas e afins. Quando toco ponta de agulha e sangro não lamento. A dor do furo lembra-me que estou vivo e são e que ainda não cedi à loucura coletiva do elogio às piores perversidades humanas. Quando percebo-me ignorante não me enraiveço, pois lembro-me que a dúvida (não a ignorância) é a maior dádiva da inteligência. Tudo isso dói. Dói, porém, ao nível do suportável, como condição sem a qual o vício da rea

As filhas das mães centenárias

Um dia diferente de todos os outros, uma percepção tão nova que nunca dantes; um novo caminho, novos horários; tudo novo, de menos as roupas... Desde ontem tem um sentimento que me ronda - ele é um sombra. Fica na espreita por trás de uma moita, ele segue meu rastro de medos, mas também de esperança. Inevitavelmente seguimos o fluxo dos carros no boulevard onde caminhamos e filhas de mães centenárias conversam sobre doenças, Alzheimer e afins. . . . Arnaldo Ventura Gostou do poema? Inscreva-se no blog e acompanhe todos os lançamentos no link do topo da página!

Ser homem

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Era pra ser um soneto invertido

Morto por motivo torpe com dezessete golpes de faca. Morto! O que tem dentro do meu coração? Quando você me vê na rua, o que vê dentro do meu coração? Todo dia é uma faca que me mata: é 'só' um sufixo, é 'só' uma piada, Um crucifixo que se empunha, censuras, lâminas (literais ou não). Lâminas fatais, lâminas reais. Sangue de verdade, caixão de verdade. (Amor de verdade) . . . Arnaldo Ventura Confira "Estudando as Estrelas II" clicando aqui .

Nu

Será que inconscientemente escolhi o atraso pra perder o ônibus e ganhar o ônibus que me permite sentar outra vez ao lado teu? A postura disfarça a forma os óculos de sol disfarçam a feiura do rosto a roupa social disfarça o socialista os modos disfarçam o degenerado a poesia disfarça a miséria da alma sem graça e cálida como um homem qualquer. Sigo nesse disfarce de paradoxo impasse... Mas seu perfume não se disfarça (a mim), Sua beleza não se disfarça, Sua perna exposta - de pele, pelo e pelve proeminentes - não se disfarça, bem como sua indiferença… Que olhou de soslaio só e avaliou rápido como um raio registrando padrões, incompatíveis com os seus; descartou-me, já que o disfarce não se sustentou. O disfarce não se sustenta. Arnaldo Ventura Gostou deste poema? Leia também Sexo Kamikaze .

Estudando as estrelas II

Se quando encaro uma estrela, ela já é morta... quando ela me encara de volta eu ainda nem nasci? Arnaldo Ventura Adquira 'Rosário', meu novo  e-book ,  clicando aqui !

Insight (áudio, poesia)