Vênus em Áries (conto)

Tenho saído com o mesmo cara já faz um tempo… É namoro? Não é?...

Ele é gentil, um tipo interessante. Tá ali descrito num poema que escrevi aqui, num conto acolá. A gente acaba e ele vai embora, a gente goza e logo dá a hora…

Por um tempo pensei que ele era de personalidades múltiplas, mas não… Existe um padrão e percebi que sempre volto pra esse mesmo cara: cabelos cacheados, pelos, barba, brinco, tatuagem, ouve música alternativa, politicamente de esquerda, maconheiro…

Não que seja ruim voltar pra esse cara. Pelo contrário: eu gosto. Mas é que eu não tinha planejado uma união estável agora…

O destino sempre nos coloca cruzando as mesmas esquinas, mas o alinhamento dos planetas sempre nos põe em tempos distintos. Como um relógio quebrado que acerta a hora duas vezes ao dia, nossos ponteiros algum dia se alinharão no tempo?

Vênus em Áries… A desculpa é sempre de ordem metafísica, mas a física concreta dos fatos é que a gente só se vê na surdina, no escuro, casualmente, nos apresentamos, “muito prazer”, mas não somos os mesmos?, talvez espelho, exceto pela minha casca excêntrica, nos curtimos, nos devoramos, cantamos, bolamos um beck, nos amamos, mesmo que de modo efêmero, estou indo, tá cedo, a gente se fala, ok.

Será que você também já percebeu que eu sou exatamente o mesmo cara de sempre?

Arnaldo Ventura

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