E quanto a antes da primavera? (poesia)

Como pode um poeta
atravessar sua existência
sem lançar-se no porvir?

De que me adiantaria sê-lo
se eu partisse calado?
(a voz que escreve sobrevive)

Penso em tudo que eu poderia,
que eu diria, que eu seria,
mas não há futuro
              - do pretérito que esgote
É que no fim de toda vida,
inevitavelmente há morte.

Confesso que não lhas entendo:
nem a primeira, nem a segunda
e percebo que já estou escrevendo,
cumprindo meu intento,
uma mensagem bem assim
fiel ao que eu fui
(ou ao que eu sou, não sei)

Eu tenho sim muito amor e muita vida
o que sinto não é nostalgia
é dor de vida bem vivida
         de todas as personas que interpreto.

E no disse-me-disse,
Pessoa, que não se importava
nem que dançassem ou rezassem latim,
no fim,
deixou o mais lindo epitáfio
- coisa estranha pra quem não se importa.

Acontece que nem ele,
naquele tempo,
nem eu, em presente que logo será outrora,
sabemos do depois da porta.

A gente teoriza,
faz conjecturas,
há quem profetize
e até quem diga "foda-se",

mas a verdade é que ignoramos o que não vemos;
no fundo, tememos o que desconhecemos
e, antes do fim, vivemos
(e apenas vivemos).

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